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O STORYTELLING NA EDUCAÇÃO

Como as histórias contribuem para a relação de ensino-aprendizagem



É possível que em algum momento da sua vida você já tenha ouvido a história de Joãozinho e suas maçãs. Talvez, contada de modo diferente. Outro personagem, outra fruta, outra quantidade. Pode ser que Joãozinho nem tenha comido as maçãs. Mas, então, qual o intuito da jornada de Joãozinho e suas maçãs? É a própria história.A humanidade é construída em cima de narrativas – desde os contos para dormir, as tradições orais, as fábulas e todo o conjunto de palavras que, ao tomar os ouvidos, também enchem a alma. Quando crianças, pedimos para que nossos pais nos contem histórias grandiosas. Ou assistimos um filme, com um lindo conto. É uma forma de imaginarmos um mundo totalmente diferente, criar personagens e se identificar com a vida de cada um dos protagonistas das histórias.


Por isso, o ato de contar histórias não é novo. E na Educação, as histórias também são usadas para ajudar nos métodos de ensino-aprendizagem, criando novos espaços, cenários e situações para que o aluno possa imaginar e aprender. É essa a essência das histórias: ser o nosso meio de sociabilidade. Os seres humanos pensam, percebem, imaginam e fazem escolhas morais de acordo com as estruturas narrativas construídas.


E não é à toa que a história de Joãozinho e suas maçãs, mesmo contada de formas diferentes, é tão famosa. Isso porque só consegue atenção quem tiver a melhor história para contar. Imagine se retirarmos as maçãs, o Joãozinho e, até mesmo, o gosto da maçã. A história passaria apenas para uma equação fria: 5 – 1 – 2 = 3.


Os dois jeitos ensinam, passam uma mensagem. Mas, Joãozinho é como um amigo, que está lá para mostrar uma situação cotidiana. O aluno mergulha na pele de Joãozinho e pode até comer a maçã junto com ele. É a melhor história, mesmo que simples.


É possível ir além da história?


Quando falamos do Joãozinho, imaginamos um personagem. Um menino, estudante, mais ou menos da nossa idade (quando ouvimos pela primeira vez a história). Temos, portanto, uma humanização da narrativa. Isto é, colocamos alguém que nos representa, alguém que nos identificamos – nos colocamos como se fossemos o próprio Joãozinho.


É assim que o aprendiz é seduzido a uma imersão (simbólica, psicológica, racional, emocional), sendo colocado no mundo pela representação da história. Assim, ele é estimulado a captar a realidade e a senti-la, pois, o grande propósito é oferecer elementos para uma compreensão muito mais rica, do que a mera explicitação de uma fórmula poderia fazer.


Mas, como ir mais além da mera identificação humana da narrativa? Como ir além do ato de contar histórias?


Precisamos criar ambientes de aprendizagem. Ou seja, espaços para transmissão e construção de informações, que dão significados e apropriam-se dessa mesma informação para auxiliar na aprendizagem. E como criar situações de aprendizagem para estimular a compreensão e a construção do conhecimento?


O desenvolvimento da tecnologia e o advento das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) são um caminho. Eles permitiram que a história de Joãozinho e suas maçãs se tornasse midiática ou trasmidiática (conteúdos que sobressaem de uma mídia única). É possível encontrar a narrativa reconfigura dentro das tecnologias de reprodução e armazenamento de dados, como em plataformas interativas, aplicativos e possibilidades de integração em smartphones e outros dispositivo.


Assim, Joãozinho está conectado.


Já pensou na possibilidade de ver o Joãozinho em um jogo de compartilhar maçãs? Agora, não estamos somente ouvindo a história de Joãozinho, mas participando dela, de fato. E podemos alterar a história, contá-la de outra forma. É um caminho de escolhas, onde o aluno é protagonista para que Joãozinho obtenha sucesso.


Temos a mesma história, com Joãozinho e as maçãs. Porém, a narrativa foi “transmidiatizada”. E, assim, o conto torna-se storytelling.


Muito além do contato com as tecnologias, o storytelling traz a imaginação e a interação como instrumentos em evidência na educação, para que o aprender seja mais prazeroso. O aprendiz também pode criar conhecimento, influenciar na história, abandonando o papel passivo de receptor de informações.


A proposta do storytelling se concentra na libertação da criatividade do aprendiz, que pode pensar a resolução de problemas importantes e significativos para ele mesmo. A narrativa transmídia também colabora para a expansão criativa. Ela se diferencia dos meios narrativos convencionais, pois cria universos amplos, que simulam situações reais.


Em sala de aula, o professor deve encarar as narrativas não só como métodos de repassar conhecimentos, mas também como a intensão de persuadir. Isso servirá para que o aluno compreenda o jogo social, a construção de espaços sociais e, assim, tenha uma educação voltada para a sua emancipação enquanto cidadão.


A partir da produção de narrativas trasmídias, e que também são imersivas, é possível criar um atalho para compreender o próprio aluno, já que o professor pode identificar os conhecimentos comuns e, assim, intervir, auxiliando o aprendiz na análise e depuração de aspectos que ainda estão deficitários; é uma nova compreensão do conhecimento científico.


E, dessa forma, ao considerar as tecnologias digitais como instrumentos estruturantes do pensamento, com a exploração das funcionalidades e propriedades das TICs, pode-se reconfigurar a prática pedagógica, pois permite-se a abertura e plasticidade no exercício de coautoria entre professores e alunos.


Ora, voltemos ao Joãozinho e suas maçãs. Se colocado em um jogo, o aluno terá vários caminhos e decisões a tomar, que o ajudarão a entender a matemática da história. Contudo, a mesma narrativa pode ser diferente entre os alunos e, até mesmo, para o professor, visto que quem decidirá qual caminho tomar é o jogador-aprendiz. Não se trata de estipular o que é certo ou errado de modo sistemático, mas sim, construir uma narrativa que permita uma compreensão efetiva por parte do aluno.


De fato, o aprendiz saberá que Joãozinho, que tem inicialmente 5 maçãs, ao comer uma maçã e dar 2 para sua mãe, acabará com 2 maçãs. Mas, o caminho para essa compreensão dar-se-á por um storytelling imersivo, em que o jogador-aprendiz estará vivenciando a experiência e, portanto, aprendendo cientificamente e empiricamente.


Portanto, o storytelling oportuniza uma aprendizagem a partir de situações de experiência autêntica, para potencializar as práticas pedagógicas e educacionais, com a construção de narrativas imersivas, mas que também possuem significados científicos, culturais, históricos e sociais. Esse processo reconstrutivo encontra suporte nas linguagens midiáticas e meios tecnológicos, que oferecem aos participantes do ato educativo (professores e alunos) a oportunidade de integrar conhecimentos sistematizados com novos conhecimentos, que têm origem na experiência.

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